segunda-feira, 7 de junho de 2010

Timido Timidez

Tipo curioso. Não gosta de chamar a atenção, no entanto, por um suspiro, fica tão vermelho que um estádio de futebol inteiro poderia notar sua presença. Quando tenta esconder-se acaba colocando-se em evidência por causa de seu comportamento tão diferente dos demais. Se preferir ficar quieto, para que não o notem, logo verá, horrorizado, vários pares de olhos voltados em sua direção. E, muito pior, escutará alguns comentários constrangedores. O tímido tem tanto pânico de vexames que, curiosamente, sempre acaba sendo aquele que come o cubo de manteiga, pensando ser queijo. Muitos atreveram-se a descreve-lo ou mostrarem as razões pelas quais tal sujeito costuma ser um desastre social. O problema é que dificilmente teremos o tímido por ele mesmo, já que tendem a esconder-se. Quase sempre esses comentários serão feitos por extrovertidos convictos. 
Diante de um indivíduo tão singular, decidi aventurar-me em uma análise, ainda que superficial, de sua personalidade. Os tímidos não são todos iguais. Existem tipos diferentes, que reagem de formas diferentes. Entre eles, destaco três. O primeiro é o falante, aquele que se pronuncia tanto que ninguém o percebe tímido. Normalmente é um sujeito muito alegre e bem relacionado, porém, se algo inesperado acontecer, pondo em risco sua segurança, esse tipo logo surpreenderá àqueles que o consideravam extremamente sociável, com um comportamento que lembrará um verdadeiro aborígene. O segundo caso seria o arrogante, que se protege dos outros com uma armadura de aço. É um sujeito solitário, pois visto pelos demais como pedante, é logo isolado e jogado no esquecimento. Na realidade, ser esquecido é tudo o que ele mais quer. Esses dois primeiros tipos tentam disfarçar a timidez, um com a falsa alegria, o outro com a falsa superioridade. O terceiro caso é, sem dúvida, o que mais chama a atenção das pessoas, e também, o que mais expõe sua timidez, tornando-se mais vulnerável que os outros. Seria aquele que fica vermelho e sua frio sempre que precisa falar em público. Embora demonstre ser o mais fraco de todos, na verdade, o medo que tem, e que pensa ser das pessoas e do mundo, é de fato, medo de sua própria agressividade, pois esse tipo esconde um ser selvagem, e por esse motivo tão anti-social. Para podermos entender esse tipo de timidez é interessante pensarmos no animal que, se sentindo ameaçado, espreita arisco a sua presa, atacando-a no momento oportuno, mas também, fugindo quando é preciso. É claro que essa situação não é problema para um animal que vive na floresta, já para um homem que vive em sociedade é o caos. 
Os tímidos possuem muitos truques para se livrarem de perguntas que eles julguem inconvenientes. Interrogue um deles, sobre qualquer assunto, e poderá obter como resposta um simples “pois é”. Você, então, ficará esperando a seqüência da frase e, depois de alguns minutos, perceberá que o “pois é” é começo, meio e fim da afirmativa e certamente o tímido não dirá mais nada. A essa altura do diálogo a conversa já morreu, você conclui que não vale a pena voltar ao assunto e sua pergunta fica mesmo sem resposta. Outro truque é o manto de invisibilidade que, depois dos vexames iniciais, eles vestem com a maior facilidade. Você simplesmente não o enxergará mesmo que ele esteja ao seu lado. Às vezes penso que essas pessoas, tão misteriosas, talvez pertençam a algum tipo de sociedade secreta, dessas que ensinam a fazer chover, ventar ou desaparecer pessoas. 
A timidez em uma pessoa comum é considerada um terrível defeito, já em alguém com certo destaque pode ser visto como um charme. A vida social de um tímido não é fácil. Imagine a situação de um tímido sozinho em uma festa. Chega, obviamente, querendo se enturmar, mas já com a cara fechada. Todos se divertem, riem e conversam. Ele desejando muito participar, mas, desvia sempre que alguém o olha. Fica quietinho em um canto e quando tentam se aproximar, foge escorregadio. Ao final da festa, retira-se pensando: “eram muito antipáticos, me isolaram o tempo todo”.

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